A Caixa Econômica Federal vai ampliar, a partir de março, a oferta de crédito com garantia imobiliária — modalidade que, embora tenha sinergia com a atividade principal do banco, hoje é praticamente nula. A medida vem em linha com os planos do banco de conceder mais empréstimos com colateral, como também é o caso do consignado, e assim aumentar a venda de produtos a seus clientes sem que o risco cresça na mesma proporção.
“Vamos, sim, usar o home equity. É um produto excelente, que vai trazer redução das taxas e uma queda sensível da inadimplência”, disse o presidente da Caixa, Pedro Guimarães.
“Home equity” é o jargão em inglês para o crédito com garantia imobiliária. Pela característica do produto, o “home equity” permite a cobrança de taxas mais baixas que as de uma operação sem garantia. A modalidade vem sendo estimulada pelo Banco Central (BC), que vê nesse mercado potencial para alcançar cerca de R$ 500 bilhões em financiamentos. O governo trabalha em medidas para permitir que um mesmo imóvel seja usado para garantir mais de uma operação, conforme antecipou o Valor em maio do ano passado.
Ainda não há cálculos mais detalhados, mas o crédito com garantia imobiliária tem um potencial de gerar centenas de bilhões de reais em operações para a Caixa, considerando a participação que o banco tem no crédito imobiliário, afirmou o vice-presidente de habitação, Jair Mahl.
De acordo com ele, a partir de meados de março a modalidade começará a ser oferecida na rede de correspondentes bancários, que já origina cerca de 90% das operações de financiamento habitacional da instituição.
A Caixa encerrou o ano passado com R$ 693,724 bilhões em sua carteira de crédito ampliada, volume que a coloca na frente do Banco do Brasil, com R$ 680,727 bilhões. O estoque de empréstimos e financiamentos da Caixa encolheu 0,1% em relação a 2018, refletindo a decisão de sair das operações com grandes empresas, mas cresceu 1,5% no último trimestre.
A carteira de crédito à habitação aumentou 4,6% em um ano, para R$ 465,094 bilhões em dezembro, levando o banco estatal a retomar a liderança desse mercado ao longo de 2019. Segundo Guimarães, o foco da instituição será concentrado nessas operações, no crédito à pessoa física e nas operações com micro, pequenas e médias empresas.
A instituição obteve lucro líquido recorrente de R$ 3,029 bilhões no quarto trimestre do ano passado, ante R$ 126 milhões no mesmo período do ano anterior, quando fez uma série de provisões e baixas contábeis. Em todo o ano passado, a Caixa lucrou R$ 14,729 bilhões em termos recorrentes, alta de 20,6%. O resultado contábil mais que dobrou, impulsionado pela venda de ativos, chegando a R$ 21,057 bilhões.
Novos desinvestimentos devem ocorrer neste ano. O primeiro da fila é o IPO da Caixa Seguridade, que é esperado para o início de abril e deve movimentar cerca de R$ 15 bilhões. Guimarães não falou em prazos, mas disse que a operação está “madura”. De acordo com ele, o passo seguinte natural é a oferta inicial de ações da Caixa Cartões, que poderia ocorrer cerca de três meses mais tarde, a depender das aprovações necessárias.
De acordo com o executivo, o retorno recorrente sobre o capital próprio de 17,5% gerado pelo banco é excessivo e poderá cair para cerca de 15% ao ano. O banco vem reduzindo taxas de juros em diversas modalidades e, na contramão dos pares, ainda expande sua rede física — para atingir o que Guimarães chama de “função social” da instituição.
Segundo Guimarães, está se provando correta a tese de que a redução de juros do cheque especial para 4,95% ao mês aumentaria a carteira e reduziria a inadimplência. O executivo não revelou dados específicos sobre a linha. A taxa de calotes da carteira total do banco recuou 0,01 ponto percentual no ano passado, para 2,17%.
Em 2020, o banco deve ter uma redução de R$ 3 bilhões no resultado oriundo do FGTS, mas também a melhora no chamado “cross selling”, a devolução das parcelas mais caras dos títulos híbridos de capital e dívida ao Tesouro e uma maior utilização da tecnologia, que devem ajudar no resultado.