O mercado imobiliário de usados começa a ganhar fôlego, depois de quase cem dias de isolamento social. O levantamento do Painel do Mercado Imobiliário (PMI), desenvolvido pela Proptech inGaia, aponta crescimento de 50% entre 1º de maio e 15 de junho nas etapas de vendas de imóveis usados no país. A plataforma acompanha o impacto da pandemia no mercado imobiliário por meio de sua base de dados que atualmente possui mais de 6,3 imobiliárias e 38 mil corretores.
Em comparação com os primeiros 45 dias (de 15 de março a 30 de abril) de isolamento social nos estados, o PMI registrou recuperação nas três últimas etapas do funil de vendas de imóveis: 72% em visitas concluídas, 38% nas propostas realizadas e 16% no fechamento de negócios. “Isto demonstra que o período de isolamento criou uma demanda reprimida de pessoas em busca por imóveis. Para este momento de retomada gradual, vemos que o mercado de usados deve voltar a ter crescimento acentuado, impulsionado por fatores como a redução dos preços e a queda da taxa básica de juros”, explica o CEO da inGaia, José Eduardo Andrade Junior.
Com três milhões de imóveis listados em sua plataforma e base de dados que representa 25% do mercado secundário imobiliário, de janeiro a dezembro de 2019, a inGaia acompanhou o valor geral de R$ 13,5 bilhões nas transações de compra e venda e R$ 1,2 bilhão no valor geral das operações de locação.
Para acelerar a recuperação, os profissionais do setor têm buscado cada vez mais a digitalização e adequação dos serviços. “Muitas imobiliárias e corretores têm utilizado videoconferências e tour virtual para visitar imóveis, outras estão reforçando as medidas preventivas, oferecendo para os futuros compradores e locatários máscaras, álcool gel e proteção para os sapatos”, conta o presidente da inGaia, Mickael Malka.
Segundo Malka, imobiliárias que se adaptaram ao digital e as novas normas de atendimento durante a pandemia estão tendo queda bem menor nos lucros. “Estamos assistindo uma mudança de hábitos que é imprescindível para a sobrevivência de grande parte dos negócios do setor. Entendemos que a oferta de serviços diferenciados, com menos burocracia e com segurança, irá impulsionar os profissionais a saírem vitoriosos nessa crise”, conclui.
O Painel do Mercado Imobiliário (PMI) mostra os impactos da pandemia nas quatro etapas que compõem o funil de vendas de imóveis: o acesso aos sites de imobiliárias, visitas concluídas, propostas e o fechamento de transações, em comparativos semanais, mensais, anuais e, também, de acordo com a evolução da pandemia no Brasil. Os panoramas regionais de 13 estados também são apresentados.
Com a Covid-19 muitos proprietários e inquilinos estão renegociando e alguns deverão entregar seus imóveis – sobretudo em função dos efeitos na economia (recessão) e da dificuldade para manter em dia seus aluguéis. Para não levar à desocupação do imóvel, o que pode ser ainda mais prejudicial, os proprietários têm negociado a flexibilização nos contratos. “Em todas as negociações, o que dita o valor de mercado é a demanda – que deverá ser alterada com os efeitos da pandemia. Sob a ótica do avaliador, essas alterações sofridas afetam diretamente o valor dos aluguéis novos. Como as avaliações são feitas por comparação, e temos muitos tipos de imóveis e demandas diferenciadas, não há como estimar um percentual”, explica Luiz Barcellos, vice-presidente de Avaliação Imobiliária do Conselho Federal de Corretores de Imóveis.
Como o que dita os valores dos imóveis é a lei da oferta e da procura, no momento a demanda está reprimida, as incertezas influenciam os compradores levando muitos deles a adiar a decisão de comprar. Se hoje o vendedor desejar liquidez, provavelmente, irá reduzir o preço ou conceder desconto para chegar ao fechamento da venda.
“Essa demanda reprimida será liberada assim que sairmos dos tempos de pandemia. Só há queda nos preços dos imóveis cujos proprietários desejam vender rapidamente. A tendência geral que se observa é de estabilidade”, detalha Barcellos.